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«Amadeo de Souza-Cardoso nasce a 14 de Novembro de 1887 em Manhufe, no concelho de Amarante, e morre em Espinho a 25 de Outubro de 1918, vítima de gripe Pneumónica. Filho de proprietários rurais, Amadeo passa a infância na quinta da família, em Manhufe, faz o liceu em Coimbra, e, concluído o primeiro ano de Arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, decide partir para Paris no dia do seu 19º aniversário, com o desejo de prosseguir os estudos na capital francesa. Em Paris integra uma colónia artística portuguesa de que fazem parte pintores como Francisco Smith (1881-1961), Manuel Bentes (1885-1961), ou Eduardo Viana (1881-1967), e cedo decide abandonar a Arquitectura em favor da prática da caricatura, chegando a publicar alguns desenhos na imprensa portuguesa. A partir de 1908, Amadeo vai-se concentrar exclusivamente na sua pintura, com declarada oposição familiar, sobretudo do pai, que mais tarde acabará por aceitar. A partir de 1909, começa a assistir regularmente às aulas do pintor espanhol Anglada-Camarasa (1871-1959) na Academia Vitti, vai-se interessando nos museus por arte primitiva e medieval, e aproxima-se de artistas como Constantin Brancusi (1876-1957) e sobretudo Amedeo Modigliani (1884-1920), com quem irá expor no seu próprio atelier em 1911. Nesse ano e no seguinte, anos intensos de trabalho, o artista participa em importantes exposições da vanguarda parisiense, como os XXVII e XXVIII Salons des Indépendants, ou o X Salon d’Automne, e em 1912 publica o álbum XX Dessins, com prefácio crítico de Jerôme Doucet, fundamental nos anos seguintes para a divulgação internacional da sua obra. É nessa época que conhece o casal de pintores Robert (1885-1941) e Sonia (1885-1979) Delaunay, que o irão ajudar a estabelecer uma rede de contactos no meio artístico parisiense, decisiva na concretização de importantes exposições em que participa no ano seguinte, na Alemanha e nos EUA. É em Nova Iorque que Amadeo conhece o maior êxito comercial e crítico da sua carreira, apresentando 8 obras na célebre exposição International Exhibition of Modern Art, conhecida como o Armory Show, que traz a arte moderna aos EUA. Foi um sucesso absoluto, com várias menções na imprensa, tendo sido dos artistas que mais venderam na exposição, ao lado de consagrados como Signac, Derain ou Duchamp; consegue assim entrar em importantes colecções norte-americanas, sendo fundamental na sua promoção o crítico norte-americano Walter Pach. No mesmo ano, participa no importante Erster Deutscher Herbstsalon (Primeiro Salão de Outono Alemão), expondo com os futuristas italianos e o grupo Der Blaue Reiter, e no princípio de 1914 expõe o álbum XX Dessins, e provavelmente os desenhos originais, na Escola de Artes e Ofícios de Hamburgo. É decisiva para a sua entrada no circuito expositivo alemão a amizade que estabelece desde 1912 com o pintor Otto Freundlich (1878-1943), que conhecera através de Modigliani. Em Agosto de 1914, Amadeo é surpreendido pelo início da Grande Guerra em Barcelona, onde conhece o arquitecto Gaudì, seguindo depois para o Porto, cidade onde se casa com Lucie Pecetto, sua companheira de Paris. No Outono, instala-se em Manhufe, no atelier da Casa do Ribeiro, que seu pai mandara construir em 1910. Apesar de sucessivas tentativas, não mais regressará à capital francesa. Em 1915-1916 colabora com o casal Delaunay, que então vivia em Vila do Conde, com Eduardo Viana e Almada Negreiros (1893-1970) na formação do grupo Corporation Nouvelle, que tinha o projecto de realizar exposições itinerantes de arte moderna em cidades europeias como Barcelona e Estocolmo, as Expositions mouvantes, que não seriam concretizadas numa Europa em guerra. No final do ano de 1916, Amadeo realiza as suas únicas exposições individuais em Portugal, primeiro no Porto (Salão de Festas do Jardim Passos Manuel, 1 a 12 de Novembro) e depois em Lisboa (Liga Naval, 4 a 18 de Dezembro). A surpresa é total, do público e crítica portugueses, perante a novidade radical da sua pintura. Dá importantes entrevistas a periódicos nacionais como O Dia e o Jornal de Coimbra, onde expõe com escândalo as suas ideias artísticas, atacando com irreverência futurista a arte académica e fazendo a apologia da originalidade. Almada Negreiros distribui um manifesto da exposição de Lisboa, apresentando Amadeo como “a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX”. Em 1917, em estreita colaboração com este último, Amadeo concebe o grafismo da edição do poema futurista de Almada K4 O Quadrado Azul, a si dedicado, e pinturas suas são reproduzidas na revista Portugal Futurista, apreendida pelas autoridades da época. A partir desse ano, a pesquisa formal do artista intensifica-se, e produz isolado em Manhufe as suas últimas obras, até ao início de 1918, com soluções de radical originalidade no contexto europeu, integrando na sua pintura colagens de vários materiais e objectos do quotidiano, ou sinalizando-a com letreiros inspirados na publicidade, antecipando assim práticas que serão desenvolvidas no imediato pós-guerra, sobretudo por artistas de filiação dadaísta».
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«He was born in Mancelos, a parish of Amarante. At the age of 18, he entered the Superior School of Fine Arts of Lisbon and one year later (on his 19th birthday) he went to Paris, where he intended to continue his studies but soon quit the architecture course and started to study painting. In Montparnasse, he experimented with Impressionism and later with Expressionism and Cubism, and dedicated himself exclusively to painting. His first experience was drawing, especially caricatures. In 1908, he installed himself in number fourteen of the Cité de Falguière. There, he went to ateliers in theAcadémie des Beaux-Arts and the Viti Academy of the Catalan painter Anglada Camarasa. In 1910 he stayed for some months in Brussels and, in 1911, he displayed works in the Salon des Indépendants. He became close with artists and writers such as Gertrude Stein, Juan Gris, Amedeo Modigliani, Alexander Archipenko, Max Jacob, the couple Robert Delaunay and Sonia Delaunay, and Constantin Brâncuşi, as well as the German artist Otto Freundlich. He was also befriended by the Italian Futurists Gino Severini and Umberto Boccioni.
In 1913, Amadeo de Souza Cardoso participated in two seminal exhibitions: the Armory Show in the USA, that travelled to New York City, Boston, and Chicago, and the Erste Deutsche Herbstsalon at the Galerie Der Sturm in Berlin, Germany, directed by Herwarth Walden. Both exhibitions showed modern art to a public that was still not used to it. Amadeo was among the most commercially successful of the exhibitors at the Armory Show, as he sold seven of the eight works he showed there.
Amadeo met with Antoni Gaudí in Barcelona in 1914, and then left for Madrid, where the shock of World War I was already underway. His friend Amedeo Modigliani showed sculptures in his Paris studio. Amadeo returned then to Portugal where he married Lucie Meynardi Peccetto. He maintained contact with other Portuguese artists and poets such as Almada Negreiros, Santa-Rita Pintor and Teixeira de Pascoaes. On October 25, 1918, at the age of 30, he died in Espinho, of Spanish flu.
His early works, under the tutelage of the Spanish painter Anglada Camarasa, were stylistically close to impressionism. Around 1910, influenced both by cubism and by futurism, he became one of the first modern Portuguese painters. His style is aggressive and vivid both in form and colour and the compositional structure of his works may seem random or chaotic at first sight but are clearly defined and balanced. His more innovative paintings, like "Trou de la Serrure" look like collages, and seem to pave the way to abstractionism or even dadaism.
In 1912 he published an album with twenty drawings and, after that, he copied the story of Gustave Flaubert, “La Légende de Saint Julien to l'Hospitalier”, which were ignored by appreciators of art. In 1913 he exhibited eight works in the Armory Show in the USA, some of which are now in American museums. The following year, he returned to Portugal and initiated a great and meteoric career in the experimentation of new forms of expression.
In 1915 Amadeo and other artists such as Santa-Rita, Fernando Pessoa and Mário de Sá-Carneiro joined to shape Orpheu, a magazine which had only two editions and is considered by many to be the exponent of Portuguese modernism. Amadeo also participated in another magazine, Portugal Futurista, which had only one edition published. In 1916, he displayed in Oporto 114 artworks with the heading “Abstraccionism”, that also was displayed in Lisbon, one and another with newness and some scandal. Cubism was in expansion throughout Europe and was an important influence in his analytical cubism. Amadeo de Souza Cardoso explored expressionism and in his last works he tried new techniques and other forms of plastic expression.
In 1925, a retrospective exhibition in France of the painter’s artwork was well received by the public and critics. Ten years later in Portugal, an award was created to distinguish modern painters: the Souza-Cardoso prize.
Amadeo de Souza Cardoso's ink drawings, decorative but always figurative, bear a relationship to those of Aubrey Beardsley. After his death, his work remained almost unknown until 1952, when a room dedicated to his paintings in Amarante Museum gained the public's attention».
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