domingo, 28 de dezembro de 2025

Cirilo Volkmar Machado (1748-1823)

-
Tecto da Sala das Descobertas ou dos Heróis Portugueses (colaboração de Bernardo António de Oliveira Góis, Palácio Nacional de Mafra, Mafra, via Google Arts & Culture)
-
Alegoria à Filosofia (1816, Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, via Raiz)
-
-
Natividade da Virgem Santa Maria (1818, Marvila - Igreja de Santa Maria de Alcáçova, Santarém, via Crotos)
-
«Pintor que viveu entre 1748 e 1823, tendo sido discípulo de João Pedro Volkmar, seu tio, e estudado em Roma, regressando a Lisboa em 1777 onde tentou criar uma Academia do Nú. Pintou painéis e tectos em igrejas, palácios e casas nobres, alguns em parceria com Parodi, intensificando a sua influência italiana e a primazia da sua visão de ideal classicista que dominou toda a sua obra.
Foi nomeado pintor do Príncipe Real e realizou trabalhos em casas senhoriais lisboetas de que se destacam as pinturas do Palácio Quintela na Rua do Alecrim, como o Concílio dos Deuses no tecto da Sala Camoniana, circundado por três medalhões com outras tantas passagens dos Lusíadas, e também os tectos dos palácios do Duque de Lafões, Marquês de Loulé e Marquesa de Belas e as pinturas decorativas no tecto do Salão de Entrada, do pano de boca de cena e diversos cenários no Teatro Nacional de S. Carlos e também no do Salitre.
Cirillo executou igualmente pinturas religiosas, como uma Última Ceia para a igreja de S. Sebastião, o tecto e decorações na Igreja do Loreto, em 1785, o quadro de S. Pedro de Alcântara na igreja da mesma invocação, e uma Nossa Senhora da Graça e o Arrependimento de S. Pedro na igreja do Senhor Jesus da Piedade de Elvas.
São também da sua autoria alguns projectos arquitectónicos, como o do Palácio da Relação e da Cadeia.
Para o Palácio do Convento de Mafra realizou, entre 1796 e 1807, uma campanha pictórica de frescos alegóricos de exaltação da Casa Real e feitos heróicos dos portugueses, salientando-se as pinturas dos tectos da Sala dos Vedores, com a Queda de Faetonte e da Casa das Descobertas com retratos de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e do Adamastor, cujos estudos preparatórios datam de 1798, a decoração dos Oratórios norte e sul e de uma saleta com a representação da Fecundidade, a Sala das Audiências com grisalhas com motivos alusivos à Guerra da Restauração sobre estudos de Sequeira, e o fresco de Flora num quarto que o pintor habitou no palácio.
De regresso à capital, em 1808, executou diversas pinturas para determinadas celebrações e comemorações, como o fim das invasões francesas, o Desagravo na igreja do Sacramento, a homenagem ao Príncipe-regente de Inglaterra ou o casamento do infante D. Pedro. Em 1814, a convite do Visconde de Santarém, Cirillo realizou várias pinturas no Palácio da Ajuda, com temática histórica acompanhada de figuras mitológicas, como no tecto da Sala do Despacho com um conjunto alegórico da Aurora, Felicidade Pública e Abundância, o tecto da Sala da Audiência, em colaboração com Fuschini, com o Regresso de D. João VI em que Neptuno acolhe o monarca recém-chegado do Brasil, dois painéis alusivos à mesma temática, executando ainda os esboços para as oito sobreportas da mesma sala, em 1817.
O seu trabalho de teórico foi igualmente importante para a sua caracterização como pintor. Em 1815 traduziu 1ª dição das Honras da Pintura, de Bellori, de 1677, que tivera cargo de “antiquário de Roma”, o que vai ao encontro do sentido arqueológico e historiográfico das obras de Cirillo que, inclusivamente, enaltece Winckelmann com quem partilha o gosto pela arte e temas da Antiguidade Clássica. No Prólogo discorre sobre a periodização histórico-artística e sobre o papel dos mecenas em termos sociológicos e o modo como se relacionam com o artista, de forma por vezes perniciosa, por falta de cultura, criticando fortemente Napoleão, por oposição a Luís XIV, protector das Artes, sendo que estas deveriam estar ao serviço do poder absoluto e do divino, considerando Roma como o único centro criador válido. No final da sua vida executou pinturas para a Real Colegiada e Santa Maria da Alcáçova em Santarém e para a Capela do Comendador de Malta, Bernardino Pais, em Mangualde».
-
Bibl.: Lina Oliveira, «Cirillo Wolkmar Machado (1748-1823)», in A Casa Senhorial [https://acasasenhorial.org/acs/index.php/pt/artistas/253-cirillo-wolkmar-machado-1748-1823]
Ver também: Sofia Braga, Cyrillo Volkmar Machado (1748-1823), Um percurso artístico singular, Caleidoscópio, 2023.
-
«A painter who lived between 1748 and 1823, having been a disciple of João Pedro Volkmar, his uncle, and studied in Rome, returning to Lisbon in 1777 where he attempted to create an Academy of the Nude. He painted panels and ceilings in churches, palaces, and noble houses, some in partnership with Parodi, intensifying his Italian influence and the primacy of his vision of classicist ideal that dominated all his work."
He was appointed painter to the Prince Royal and carried out works in Lisbon manor houses, most notably the paintings in the Quintela Palace on Rua do Alecrim, such as the Council of the Gods on the ceiling of the Camonian Room, surrounded by three medallions with as many passages from Os Lusíadas, and also the ceilings of the palaces of the Duke of Lafões, Marquis of Loulé and Marchioness of Belas, and the decorative paintings on the ceiling of the Entrance Hall, the proscenium curtain and various sets in the Teatro Nacional de S. Carlos and also in the Teatro do Salitre.
Cirillo also executed religious paintings, such as a Last Supper for the church of S. Sebastião, the ceiling and decorations in the Church of Loreto, in 1785, the painting of St. Peter of Alcântara in the church of the same invocation, and a Our Lady of Grace and the Repentance of St. Peter in the church of Senhor Jesus da Piedade in Elvas.
He is also the author of some architectural projects, such as the Palace of the Court of Appeal and the Prison.
For the Palace of the Convent of Mafra, between 1796 and 1807, he carried out a pictorial campaign of allegorical frescoes exalting the Royal House and heroic deeds of the Portuguese, highlighting the paintings on the ceilings of the Hall of the Overseers, with the Fall of Phaethon and the House of Discoveries with portraits of Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral and Adamastor, whose preparatory studies date from 1798, the decoration of the north and south Oratories and of a small room with the representation of Fertility, the Audience Hall with grisailles with motifs alluding to the Restoration War based on studies by Sequeira, and the fresco of Flora in a room that the painter lived in at the palace.
Back in the capital in 1808, he executed several paintings for specific celebrations and commemorations, such as the end of the French invasions, the Reparation at the Church of Sacramento, the homage to the Prince Regent of England, or the marriage of Infante D. Pedro. In 1814, at the invitation of the Viscount of Santarém, Cirillo created several paintings in the Ajuda Palace, with historical themes accompanied by mythological figures, such as the ceiling of the Dispatch Room with an allegorical set of Dawn, Public Happiness, and Abundance, the ceiling of the Audience Room, in collaboration with Fuschini, with the Return of D. João VI in which Neptune welcomes the monarch newly arrived from Brazil, two panels alluding to the same theme, also executing the sketches for the eight overdoors of the same room, in 1817.
His work as a theorist was equally important for his characterization as a painter. In 1815 he translated the 1st edition of Bellori's Honours of Painting, from 1677, who had been in charge of "antiquarian of Rome," which aligns with the archaeological and historiographical sense of Cirillo's works, who even praises Winckelmann, with whom he shares a taste for art and themes of Classical Antiquity. In the Prologue he discusses the historical-artistic periodization and the role of patrons in sociological terms and how they relate to the artist, sometimes perniciously, due to a lack of culture, strongly criticizing Napoleon, in opposition to Louis XIV, protector of the Arts, who believed that these should be at the service of absolute power and the divine, considering Rome as the only valid creative center. At the end of his life he executed paintings for the Royal Collegiate Church and Santa Maria da Alcáçova in Santarém and for the Chapel of the Commander of Malta, Bernardino Pais, in Mangualde.

Sem comentários:

Enviar um comentário