segunda-feira, 1 de abril de 2013

Vieira da Silva (1908-1992)

Composition (Composição) (1936, CAM, Lisboa).
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L'oranger (1954, CAM, Lisboa).
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Les Degrés (Os Degraus) (1964, CAM, Lisboa).
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Atlantide (1973, CAM, Lisboa).
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Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1908. O seu pai morreu cedo (em 1911), sendo a sua vida muito marcada pela presença da mãe, com quem viveu em Lisboa - até 1926, em casa do avô que fora fundador do jornal O Século. Na companhia materna fez viagens e assistiu a espectáculos, visitou museus e exposições, destacando-se uma estadia em Londres em 1913 e o visionamento dos «Bailados Russos» em Lisboa, em 1917. Desde criança que teve acesso a um bom ambiente cultural, com aulas de desenho dadas por Emília Santos Braga, de pintura dadas por Armando de Lucena, complementadas com a aprendizagem de música. Interessou-se também pela escultura e frequentou aulas de anatomia na Faculdade de Medicina.
Em 1928, foi para Paris, onde estudou na Academia da Grande Chaumière e na Academia Escandinava. Frequentou depois os ateliês de artistas, incluindo o de Fernand Léger, Antoine Bourdelle e Stanley William Hayter  Entretanto, em 1930, casou-se com Arpad Szenes, pintor húngaro. Em 1933, a galerista Jeanne Bucher organizou a primeira exposição individual consagrada à artista e, em 1935, em Lisboa, foi a vez de António Pedro lhe organizar uma exposição na Galeria UP. Em 1937, um dos seus quadros foi adquirido para a colecção Guggenheim, importante momento que marcou o seu reconhecimento internacional. 
No ano de 1940, Vieira da Silva foi com o marido para o Brasil e foi nesta época que pintou O Metropolitano, evocando os ataques a Paris durante a IIª Guerra Mundial. Nesta altura, algumas das suas obras chegaram a aproximar-se do surrealismo, como é o caso de História Trágico-marítima (1944). Finda a Guerra (1945), em 1947, a artista regressou a Paris. O Estado francês adquiriu-lhe a obra A partida de xadrez (1943) e Pierre Descargues dedicou-lhe uma monografia. Nos anos cinquenta inniciou-se o período de afirmação e consolidação da carreira e a pintora tornou-se num nome de referência da segunda geração da «Escola de Paris». No ano de 1956, recebeu a nacionalidade francesa, pois tinha perdido a nacionalidade portuguesa quando se casou com Arpad. Entretanto, em Portugal, o trabalho da artista começava a ser reconhecido: no ano de 1956, o o Museu do Chiado adquiriu dois dos seus guaches e em 1958, José-Augusto França publicou uma monografia sobre a pintora. Vieira da Silva recebeu o Grand Prix National des Arts in 1966, uma importante honra concedida pelo Governo Francês. 
Em 1970, fez-se uma grande exposição da sua obra na Fundação Calouste Gulbenkian e a artista, feliz com a Revolução de 25 de Abril de 1974, concebeu um conjunto de pinturas evocativas do acontecimento. Em 1977, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e Espada e, em 1978, o realizador José Álvaro de Morais dedicou-lhe um filme intitulado Ma femme chamada Bicho, com relatos do marido e por isso evocando a alcunha carinhosa que este dava à sua mulher. No final da década, em 1979, o Governo francês condecorou-a com a Legião de Honra (sendo oficial da mesma Ordem em 1991) e a artista foi aceite como membro do Comité de Honra contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos. No ano de 1983, foi convidada a fazer a decoração da estação de metro da Cidade Universitária, em Lisboa. 
Para desgosto da artista, o seu marido Arpad morreu em 1985, mas ela ainda assim continuou a trabalhar, sendo alvo de múltiplas homenagens. Na década de 1990 começou a tratar-se da criação da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, cujo museu inaugurou em 1994, tendo a artista falecido em 1992, dois anos antes. Para além da sua obra pictórica, cujo valor é inegável, quer em termos estéticos, quer em termos de originalidade, deixou escrito um testamento poético, que iremos aqui recordar:

Eu lego aos meus amigos
Um azul cerúleo para voar alto.
Um azul cobalto para a felicidade.
Um azul ultramarino para estimular o espírito.
Um vermelhão para o sangue circular alegremente.
Um verde musgo para apaziguar os nervos.
Um amarelo ouro: riqueza.
Um violeta cobalto para o sonho.
Um garança para deixar ouvir o violoncelo.
Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.
Um ocre amarelo para aceitar a terra.
Um verde veronese para a memória da primavera.
Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.
Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.
Um amarelo limão para o encanto.
Um branco puro: pureza.
Terra de siena natural: a transmutação do ouro.
Um preto sumptuoso para ver Ticiano.
Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.
Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.
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Bibliografia: Joana Baião, Vieira da Silva, Quidnovi, 2010.
Link: http://fasvs.pt/
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Maria Helena Vieira da Silva (June 13, 1908 – March 6, 1992) was a Portuguese-French abstractionist painter. She was born in Lisbon, Portugal. At the age of eleven she had begun seriously studying drawing and painting at that city's Academia de Belas-Artes. In her teen years she studied painting with Fernand Léger, sculpture with Antoine Bourdelle, and engraving with Stanley William Hayter, all masters in their respective fields. By 1930 Vieira da Silva was exhibiting her paintings in Paris; that same year she married the Hungarian painter Árpád Szenes. After a brief sojourn back in Lisbon and a period spent in Brazil during World War II (1940–1947), Vieira da Silva lived and worked in Paris the rest of her life. She adopted French citizenship in 1956. Vieira da Silva received the French government's Grand Prix National des Arts in 1966, the first woman so honored. She was named a Chevalier of the Legion of Honor in 1979. She died in Paris, France on March 6, 1992.
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